quinta-feira, 9 de maio de 2013

O PERCURO

div align="justify">Aquele não era um dia qualquer para o pequeno Vicente, de nove anos de idade. Era um dia muito especial, pois, tinha novidades para contar à todos os amigos da escola, começando pela sua turma. A ansiedade estava explícita nos seus olhos ajaboticabados e de um negro cintilante, que naquela manhã brilhavam bem mais do que nos outros dias; detalhe que não passou fora da observação da sua professora, a tia Rosaly, como era carinhosamente chamada pelos seus alunos.

Dificilmente, o menino chegava triste na escola, apesar de levar uma vida cheia de dificuldades e privações, dividindo com os pais e mais três irmãos o apertado espaço de um pequeno barraco coberto com telha de amianto e com as paredes construídas em taipa e restos de madeiras de construção, erguido numa das encostas da periferia da capital alagoana. mas ele gostava muito do convívio na escola, era onde tinha amigos e espaço para brincar. Só que a alegria do menino, naquela manhã quente de novembro, era totalmente diferente do que a professora e os coleguinhas estavam acostumados a ver. O Vicente estava inquieto e falante demais e para não atrapalhar a aula, a tia Rosaly resolveu tomar conhecimento do motivo de tanta excitação do garoto.

Era só o que ele estava esperando, uma oportunidade para começar a contar a sua novidade de forma coletiva, que era mais producente, porque na hora do recreio teria de contar aos pingados. E iniciou o relato da seguinte forma:

- Tia a gente lá de casa não precisa mais ir ver televisão na casa do seu Márcio Batista, meu pai ontem acabou com essa história.
- Como assim, indagou a professora.
- É que meu pai ganhou um dinheirinho e foi lá no mercado de Maceió e comprou uma tv e um percuro, agora desde ontem a noite a gente assiste a novela na nossa casa e na nossa televisão, com o percuro ligado.
- Mas afinal de contas, o que é o percuro, quis saber a tia.
- Como a tia não sabe? arregalou os olhos e sorriu com ar de dominador da situação e mandou ver:
- É aquele negócio que roda fazendo vento e sai percurando a gente prum lado e pra outro.

A partir daquele dia a professorinha ficou sabendo que para o pequeno Vicente, o nome do ventilador que gira é percuro, e, acrescentou mais uma palavra no seu vocabulário.