sexta-feira, 19 de junho de 2009

QUEM DERA

Zé da Feira

Quem dera meu Deus, quem dera!
Ver meu povo com alegria,
Convivendo com a paz,
De mãos dadas, com harmonia;
Sem a castração de assistir,
A violência tingir,
De sangue seu dia a dia!

Quem dera ver minha terra
Do medo se libertar,
E ver com tranquilidade
O povo poder andar,
Pelas ruas livremente
E aqui só morrer gente
Quando Deus mandar buscar!

Quem dera ver as crianças
Realmente assistidas.
Com saúde, casa, escola,
Alimentadas e nutridas;
Para não ter a dura sorte,
De ter que encarar a morte,
Sem conhecer nem a vida!

Quem dera ver o camponês
Lavrar a terra e plantar,
Semeando a semente
Para ela germinar;
Dando a mais singela prova,
Que sempre uma vida nova
A terra pode gerar!

Quem dera ver a natureza
Como uma mãe respeitada,
Distribuindo amor,
Sendo pelos filhos amada;
Dando vida e vivendo
Sem ter que viver sofrendo,
Assim tão violentada!

Quem dera ver minha gente
Longe de tão negro abismo,
Poder ver em cada rosto
Espelhar o otimismo.
Quem dera ver meu país,
Sorrir contente e feliz,
Livre do analfabetismo!

Quem dera que tantas guerras,
Não existissem jamais!
Que brotasse aqui na terra
Um sentimento fulgaz,
De amor e de felicidade,
Para que a humanidade
Pudesse viver em Paz!

* Estes verso foram escritos em 1984.

terça-feira, 16 de junho de 2009

MEU CANTO

Zé da Feira

Deixa eu viver bem quieto no meu canto,
No meu recanto, remoendo a minha dor.
Tenho meus sonhos como todo cidadão,
Quero justiça, não esmola nem favor!

Quero respeito e também dignidade,
Ter liberdade e trabalho, sim senhor!
Quero criar o meu filho indo à escola
Para estudar, se formar e ser doutor!

De promessas já estou de saco cheio!
O meu paleio eu já sei como cantar.
Sei levitar na minha imaginação...
Quero sossego pelo menos pra sonhar!

Deixa eu levar essa vida do meu jeito,
Já não aceito que me roubem a ilusão.
Deixa eu sonhar cuidando do meu roçado,
Ouvindo a semente pipocar dentro do chão!

Deixa eu viver bem quieto no meu canto,
Só eu sei quanto é difícil a precisão;
Sou sertanejo que carrega a amargura
De ser apenas indigente pra nação!

A minha história é regada de bravura
E de fé pura é feita minha oração!
Sou bem capaz de irrigar com meu suor,
Este meu canto conhecido por sertão!