domingo, 19 de abril de 2009

GUERREIROS DA LUZ




As fotos (José Feitosa) e o poema Cidadão de Papel(Zé da Feira) fazem parte da Mostra Fotográfica e de Poesia Popular intitulada "Guerreiro da Luz". O poema foi publicado no livro Terra de Canto e Viola (Zé da Feira)

CIDADÃO DE PAPEL

Zé da Feira

Criança tu tens o direito de nascer
E sadia crescer, com total assistência;
Livre do desprezo e da humilhação,
Sendo digna a nação, da tua existência!

Tens direito à escola, mas nas feiras e mercados,
Tu ganhas uns trocados teus fretes tocando;
Também nas esquinas, dos livros, distante,
Sob o sol escaldante, estás trabalhando!

Tens direito a um lar, uma cama macia,
De sonhar e um dia se orgulhar da nação.
Ter família e o respeito de uma vida decente
E não ser um indigente que dorme no chão!

Com um amargo sorriso que brota no rosto,
Tenta apagar o desgosto da vida cruel;
Que te nega o carinho, o amor e o respeito,
Tendo muitos direitos... Mas só no papel!

GUERREIROS DA LUZ



A foto (José Feitosa) e o poema Menino da Roça (Zé da Feira) fazem parte da Mostra Fotográfica e de Poesia Popular intitulada "Guerreiro da Luz". O poema foi publicado no livro Terra de Canto e Viola (Zé da Feira)


MENINO DA ROÇA

Nem bem o sol nasce lá vai o menino,
Cumprir seu destino na lida pesada;
Não pode ter sonhos, nem fantasias,
Só conhece a agonia dos eitos e da enxada!

É uma criança, mas tem que trabalhar,
E na terra plantar, pra ganhar seu sustento;
Trabalha alugado com seu pai que é pobre
E quem não tem cobre, só tem sofrimento!

A poeira fatiga seu corpo pequeno,
Bronzeado, moreno, pelos raios do sol;
O suor que transpira, embebe seu rosto,
Já acostumou com o gosto do próprio suor!

Menino da roça, guerreiro valente,
Sua dor quando sente, não chora seus ais;
De foice na mão, bem ágil e ligeira,
Vai abrindo clareiras nos canaviais!

É o menino da roça, que acima de tudo,
Sem direito ao estudo, explorado, infeliz;
Vai com sua coragem e sua nobreza,
Gerando riquezas para o nosso País!

terça-feira, 14 de abril de 2009

HONESTAMENTE

A festa era grande demais para comemorar os dez quilômetros de recapeamento da AL 220, num trecho entre Arapiraca e uma comunidade próxima. Tinha carro de som, meninos trajando fardamento da escola pública da localidade e um punhado de curiosos com atenção voltada para um sujeito vestido num terno cor de rosa, que parecia mais um cabo eleitoral da Tereza Nelma. Mas não poderia ser, pois, no nosso modelo eleitoral rola muita coisa esquisita, mas ainda não temos vereador estadual.

De vez em quando éramos sobressaltados com os tiros dos fogos de artifícios, ainda bem que eram fogos... Do jeito que a coisa anda, qualquer tirinho mete susto. Mas tudo estava pronto para o cortamento de fitas, com direito a discursos e tudo mais, só faltava o “cara”, que não era outro senão o governador. Ele mesmo, o que tem o nome do menestrel das Alagoas, e, que iniciou o mandato fazendo o maior reboliço da história desta nossa terra, causando o descontentamento de todas as categorias dos servidores públicos estaduais.

Foram greves longas, que nós pagamos em dia, sem atraso de salários. Atraso só na nossa vida, como sempre, somos nós que pagamos o pato. Se o “cara” apronta, sobra pra nós, se a turma dos muitos que já não gostam de trabalhar faz greve, sobra também pra nós, que já dispomos da prestação de um serviço público que deixa muito a desejar. Mas essa é uma história pode ser contada em outra oportunidade. Voltemos à inauguração dos dez quilômetros de recapeamento.

O governador chegou acompanhado de uma frota de carros, muitos deles oficiais, que mais parecia carreata eleitoral e junto com ele estava o inseparável senador, aquele mesmo, o do escândalo sexual que lhe custou a Presidência do Senado e uns pontinhos a menos, na coleção dos prestigiados e prediletos freqüentadores do Palácio do Planalto.

Iniciado os discursos, eu tirei os meus retratinhos para serem publicados na página de política da Gazeta de Alagoas e fiquei dando um giro pela periferia do pequeno público, com a intenção de ouvir alguns comentários. Afinal de contas, o prestigio do “cara” não estava lá muito grande, muito pelo contrário. Percebi que atento às suas palavras, só os que faziam parte da caravana e uma meia dúzia de pessoas que queriam tirar proveito da presença dele, naquela comunidade.

O sol estava abrasador, fui procurar abrigo debaixo de uma árvore, num pequeno espaço que sobrou entre dois cidadãos, exatamente hora em que o governador anunciava para o senador e convidava o mesmo a ficar preparado, pois, a partir daquela data, toda semana estaria inaugurando uma obra e disse: “acredite, senador, que não serão poucas, vamos fazer uma obra atrás da outra”. Um dos cidadãos que estava ao meu lado resmungou para o outro: “Agora é que o homem vai fazer merda”.

Não sei se “honestamente”, mas acho que nunca se fez tanta...

sábado, 11 de abril de 2009

Ô MARÉ!

Aquela maré não estava pra peixe, principalmente, tratando-se de um peixe tão minúsculo, fácil de ser arrastado até a areia e ficar naquele vai e vem das ondas que iam e voltavam, em movimentos repetidos como se estivesse a fim de livrar-se do coitado, que cada vez era arremessado mais longe. Pela primeira vez na vida eu era um peixe e não estava gostando nada da experiência.

De repente, senti que estava no ar, fui jogado longe da linha da maré, não tinha como voltar para água e tinha dificuldade para respirar, era uma sensação terrível, estava asfixiado e naquela hora, qualquer poça de lama seria para mim um verdadeiro oásis. Estava perdido naquele mar de areia e o meu destino, pelo visto, não era nada bom.

Espera aí! Como vim parar dentro de um aquário cheio de peixes mal encarados e dentuços, bem maiores que eu? Não era correto o que estava acontecendo comigo, não acredito que fosse merecedor de tudo aquilo. Precisava sair daquele aquário urgente, antes que virasse refeição para aquela galera, que não tinha nenhum compromisso com a minha saúde.

Precisava encontrar uma saída antes que fosse devorado, mas que situação... Se saltasse fora do aquário, não teria como sobreviver. Se ficasse seria o antepasto do dia. Quando tudo parecia perdido, a salvação! Alguém colocara um copo d’água ao lado do aquário, eu só teria que fazer um impulso com força suficiente para saltar e alcançar o copo d’água, que para mim mais parecia uma piscina.

Reuni todas as forças que me restavam e me arremessei de dentro do aquário e dessa vez quando ainda estava no ar, não pude ver o que aconteceu em seguida...

Acordei!!!